sexta-feira, 20 de abril de 2012

Até breve, meu pai herói

Sério e simpático: Pedro Pinto Selbach

        Meu pai era o maioral; meu pai era um cara legal. Digo isso não apenas como filho, mas pela história que Pedro Pinto Selbach construiu em 80 anos de vida.
      Chegou ao Vale dos Sinos há 74 anos somente com a roupa do corpo, tentando fugir de uma vida difícil que se desenhava para a família Selbach em Santa Maria. O caçula do seu Arthur e da dona Vitalina tinha a cabeça cheia de sonhos e muitos planos. Como ninguém, sabia que só era possível vencer pelo trabalho. E ele trabalhou como ninguém.
       Aos 12 anos já era funcionário da Aços Plang, uma siderúrgica no Centro de Novo Hamburgo. Morava no Travessão, em Dois  Irmãos, ou seja, distante 10 quilômetros da empresa...
      Fazia o percurso de tamanco, a pé, todos os dias. Para chegar no horário, deixava a casa dos pais às 4h da manhã. O salário era pouco e ele logo percebeu que era preciso melhorar os rendimentos para poder ajudar ainda mais em casa. Arrumou serviço depois da hora: limpar os banheiros da empresa... Fazia isso como se o patrão tivesse lhe dado um bônus, afinal, era uma oportunidade de ganhar mais que estava recebendo...
     Depois de uma rotina de mais de 12 horas de trabalho exaustivo, lá voltava ele para o Travessão, chegando em casa tarde da noite. Com o tempo, percebeu que era preciso pensar no futuro e investir. Comprou um terreno na Vila Dihel. Na minha infância, nunca consegui entender porque nossa casa era enveazada. Anos mais tarde meu pai me explicou: ele havia comprado um barranco... E depois do serviço, retirava a terra em um carrinho de mão para aumentar a área útil no imóvel...
      E assim, à sua maneira e com o apoio de minha mãe e de minha tia Helena, o seu Pedro foi tendo sua família. Criou seis filhos, deu educação e exemplos diários para todos.

- Vocês têm que economizar 30% do salário bruto para poder investir e formar um patrimônio...

- Nunca envergonhem o nome da família....

- Saber não ocupa espaço... Estudem para ter o futuro que eu não pude ter porque tive que trabalhar....

- Ninguém vai construir estabilidade gastando mais do que arracada, seja o governo ou a família de vocês....

        Na hora da dificuldade, dizia sempre:

- Força e coragem....O resto é bobagem....

        Na carona, em um cruzamento como caroneiro, avisava:

- Pare, olhe, escute...recordando-se certamente de seu período em Santa Maria, onde os trens fizeram parte de sua infância...

      Quando chegávamos em sua casa, mesmo com a doença comprometendo sua saúde, repetia para todos:

- O velho caminhando, tá tudo bem. Eu sou um sujeito feliz. Tenho a família ao meu lado. E isso não é pouca coisa....

       Ao meio-dia, gritava para a mãe:
- Adir, trás a panca...

       E lá ia a Adir levar o almoço. Primeiro o feijão, que era cuidadosamente amassado. Depois, devolvia o prato para ser completado com arroz, batata, carne, salada.... Se alguém deixasse no prato, dizia:

- Deixa que o velho arremata. Comida a gente não põe fora...

       Na hora do banho, outra ordem:
- Adir, a toalha...Minha roupa.....

       E lá ia a Adir cumprir as determinações...

     À noite, escovava os dentes caminhando pela casa e falando com todos.... Esse hábito foi compartilhado pelos filhos, e muitos o repetem até hoje, inclusive netos... E assim os anos foram se passando. Colocou um pequeno armazém na Vila Dihel em uma época em que mini-mercado era coisa de cidade grande. Com sua simpatia e humildade, conquistou o bairro inteiro e prosperou. Trabalhava de domingo a domingo, das 6h da manhã até o último cliente aparecer, o que podia se estender além das 22h.
       Nos anos 70, um dos poucos prazeres que admitia para si mesmo era ir a Porto Alegre em dias de jogos importantes de seu Internacional. O Colorado era uma das paixões do Foguinho... E nestes dias especiais, saía cedo de casa em direção ao Beira-Rio. Voltava tarde, cheio de histórias para nos contar.

- Nenê, Alemão, dizia para mim e meu irmão Artur, o Figueiroa fez um golaço hj. Que zagueiro....O Valdomiro cruzou da direita e ele subiu lá em cima, deu um testaço pra baixo...sem chances para o goleiro do Cruzeiro.... Ele subiu mais de um metro de altura, é incrível a impulsão dele...e o Manga, então.... Que goleiro...Que goleiro....Fez cada defesa...Segurou um chute do Nelinho com quatro dedos quebrados....
      As histórias eram repetidas e, não raro, pedíamos para ele contar de novo como o Figueiroa subia, como o Manga defendia e como o Falcão jogava de cabeça erguida, a bola colada ao pé...uma elegância só....
       Sua simpatia fazia com que, em dias de Gre-nal, as pessoas deixassem suas casas para irem ouvir o jogo no rádio em seu armazém. A venda do Pedrinho ficava lotada e ele vendia muita cerveja.
     Meu pai era um grande motorista também. Certa vez ele e seu inseparável amigo Elemar Eltz ficaram sem freios na descida da Pedreira, em um caminhão lotado de pedras. Ele veio costeando o veículo contra o barranco, fazendo com que a velocidade diminuísse, ao mesmo tempo em que ia usando o freio do motor, até o carro parar. E assim os dois se salvaram sem que outros se ferissem.
        Incrivelmente, ele acreditava que eu era um grande motorista. O que ele não sabia era que desde pequeno eu procurava imitar seus movimentos. Íamos de Rural para a praia e ficava concentrado, observando os movimentos dos pés, o jeito que ele segurava a direção e fazia o difícil parecer tão fácil...
        Com os anos e a chegada dos netos ele foi se tornando mais doce, mais tolerante e ainda mais querido com todos. Os filhos, os netos, a família como um todo, eram sua preocupação. Queria a união de todos e trabalhou incansavelmente para isso durante toda sua vida.
        Também nunca consegui entender como ele nunca teve uma conta em banco ou cartão de crédito...
- Isso é só pra gente se endividar, Mário....
       Igualmente, nunca consegui entender como sempre tinha dinheiro em casa ou nos próprios bolsos. Em dificuldade, sabíamos que na mala preta do velho sempre haveria, pelo menos, R$ 500,00...
       Me recordo de outra frase clássica que repetia para todos os seus amigos no balcão do armazém:

- Vocês vão morrer, eu vou viver pra sempre...
       Da maneira dele, fazendo pilhéria de uma situação tão embaraçosa, estava certo: a morte é apenas uma passagem e ele seguirá vivendo para sempre em cada um que teve contato com ele, em especial nos amigos e familiares que o amavam incondicionalmente.

         Tenho certeza de que se pudesse dizer algo neste momento diria:
- Helena, minha parceira, irmã amada: obrigado por tudo, pela dedicação, companheirismo e amizade. 

- Adir, obrigado pela panca, pelos nossos filhos e pelo amor ao longo de 53 anos de casados. A morte não nos separou, até breve.

- Meus filhos amados: Artur, meu baita macho, Chico, meu mais velho, Mário, meu jornalista, Nena, minha filha querida, Ana, minha médica e filha amada, Fofa, minha caçula abençoada, meus netos queridos – Cássio, minha cópia, Rafa, meu preto, Fran, minha primeira neta e nossa preta amada, Carol, minha lindinha, Marina, minha princesinha, Mona, meu anjinho, o velho está bem. Quero que vocês também estejam bem. Cuidem-se e amem-se uns aos outros. Minha jornada chegou ao fim, mas este não é o fim. É um recomeço, uma nova fase, uma passagem até que todos nos reencontremos novamente.
      Vai em paz meu pai, vai em paz meu ídolo. Teus ensinamentos continuarão conosco, tua vida seguirá em nossas vidas. Tu construiu tudo isso, és o grande arquiteto e artífice dessa família, a luz que seguirá iluminando nossos passos.

          Com amor, família Selbach.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dilma abre o cofre para evitar o pior

Presidente tenta fazer com que a economia não pare

          A presidente Dilma anunciou ontem uma série de medidas para beneficiar o setor produtivo. No pacote, R$ 60 bilhões para atender 15 setores na tentativa de garantir maior competitividade às empresas brasileiras. Tudo para evitar que o País pare e os reflexos da crise na Europa e Estados Unidos sejam ainda piores para o Brasil.
         Depois do PIB de 2,75% de 2011, quando a economia literalmente subiu no telhado, acendeu a luz amarela no governo. Antes, a presidente já havia reduzido o IPI de móveis e outros produtos, além de ter estendido a redução do imposto para a linha branca até a metade do ano. O remédio de Dilma, no entanto, pode não ter os resultados esperados, já que o espaço para endividamento das famílias brasileiras é reduzido neste momento.
         O crédito farto do governo Lula e as condições favoráveis para compra causaram profundo impacto na vida do brasileiro. As pessoas se deslumbraram e carros foram vendidos em até 96 meses. A construção civil também explodiu, com novos financiamentos variando entre 25 e 30 anos. Resultado: as famílias não estão comprando porque não querem, mas porque simplesmente não têm mais capacidade de pagamento a médio e curto prazo. 
         Dia desses, em conversa com um grande empresário que atua na área de transportes, ele me disse que desde setembro do ano passado houve drástica redução nos pedidos de novos caminhões junto às montadoras. Segundo ele, este é o primeiro sinal de que a economia está parando, pois os transportadores não estão renovando a frota ou adquirindo novos veículos em virtude de a demanda ter diminuído substancialmente.
          E Dilma, mais do que ninguém, sabe que enquanto a roda da economia estiver girando, a sensação de bem estar social permanece. Afinal, "é a economia estúpido", como diria Bill Clinton, que manda na política. Aqui e em qualquer parte do mundo.
Boa Páscoa a todos!