quarta-feira, 25 de julho de 2012

Celular derruba Raul Pont....e quem não se cuidar....


Tenho repetido exaustivamente a candidatos nesta eleição que tenham o máximo de cuidado com o uso do celular e, principalmente, com o que falam em discursos e pronunciamentos. Isso vale para o que for dito em reuniões fechadas ou abertas.
Pois na última semana o presidente estadual do PT, deputado Raul Pont, durante reunião partidária em Sapiranga que decidiu substituir o candidato a prefeito Egon Kirchheim em virtude de ele ter o registro indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral, falou em público o que não deveria. Lá pelas tantas, Pont bradou:

– Nós não controlamos esse bando de sem-vergonha que compõe o Tribunal Eleitoral.
       
A fala foi gravada em um celular e o vídeo vazou para a Imprensa. Pronto. O mal estar estava criado. Inicialmente o deputado tentou negar mas, diante do inegável, recuou. 
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge, logo percebeu o tamanho da encrenca em que Pont colocou o PT e tratou de pedir desculpas ao TRE. Foi além: deixou claro que a manifestação não representava o pensamento da sigla e foi totalmente fora de propósito. Jairo Jorge é candidato e sabe, como poucos, que ter a Justiça contra si é o pior dos cenários em uma campanha.
Que a lição sirva para todos, candidatos ou não: devemos pensar bem ao fazermos uso da palavra. Como alguém já disse, "palavras são como flechas: uma vez disparadas não voltam ao arco inicial"... 
Boa semana a todos.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Cinco anos sem Júlio Redecker: os bastidores de minha convivência com o melhor de todos

                                                    Edison Castêncio
Líder da Minoria: convivência com o poder

Hoje faz cinco anos da maior tragédia da aviação brasileira. Em 17 de julho de 2007 o avião da TAM que iria de Porto Alegre para São Paulo teve problemas no pouso e se chocou contra um angar de cargas da companhia, no Aeroporto de Conconhas, vitimando 199 pessoas. Entre elas estava meu amigo, chefe e deputado federal Júlio César Redecker.
Minha história com Júlio Redecker iniciou em 1992. Eu era editor de Geral no Jornal NH e, a convite do editor de Economia, Luiz Carlos Erbes, fui a um jantar promovido pela Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB).
Júlio não era o presidente. Ocupava a secretaria executiva da entidade, mas atuava como se fosse seu representante máximo. Ele falava bem, apresentava dados sobre o setor, dava sugestões de como o governo deveria desonerar a vida dos exportadores e, naturalmente, encantava a todos. Saí daquele encontro impressionado, confesso.
Fui reencontrá-lo dois anos mais tarde, em Sapiranga, já como pré-candidato a deputado federal. Disse-me: “Vou concorrer a deputado. E vou me eleger!”, exclamou convicto na porta do carro. Pensei comigo:
- O cara é bom, mas nunca teve um cargo público e quer ir direto a federal...Acho difícil...
Júlio já tinha perdido em duas oportunidades. Tentou, sem sucesso, se eleger prefeito de Taquari, sua cidade natal, em 1982. Quatro anos mais tarde buscou uma cadeira na Assembleia Legislativa. Fez uma bela votação, mas ainda assim distante do necessário para se eleger. E agora queria ser federal diretaço??
Para meu espanto, na Fenac, em uma época em que ainda eram contados os votos em cédulas de papel, Redecker chegou a mais de 42 mil votos, ficando na primeira suplência. Nesta eleição, deixou para trás nomes consagrados da política, sendo a surpresa do pleito. Com a vitória de Antônio Britto para o governo do Estado, assumiu uma cadeira na Câmara Federal.
Bastaram menos de três anos para ele se consolidar como um parlamentar combativo, autêntico, sagaz, diferenciado e com discurso único. Na eleição seguinte, sua votação superou os 102 mil votos. Iniciei meu trabalho ao lado dele neste pleito, em 1998. À época, eu coordenava a campanha de Gilson Thoen a estadual em Novo Hamburgo e o Júlio me enxergou no meio da multidão.
Na outra eleição, ainda mais consolidado, chegou aos 188 mil votos. Um fenômeno. No outro ano, cansado dos desmandos de Paulo Maluf, deixou o partido que militara por 30 anos e rumou para o PSDB.
José Serra e FHC eram seus mestres, mas Júlio se identifica mesmo era com Serra, a quem considerava o homem mais inteligente com quem já tivera contato.
Na sequencia, assumiu a Comissão do Mercosul no Congresso Nacional. E me levou junto. Com ele tive oportunidades únicas e que não teria, mesmo como jornalista. Pude frequentar embaixadas, conheci presidentes e primeiros-ministros, fui a lugares e jantares reservados do poder, circulando única e exclusivamente por integrar o staff Redecker.
Da minha parte, quero acreditar que fui um assessor leal, estando a seu lado em todos os momentos, fossem eles bons ou maus. Além da parceria, trabalhei incansavelmente para levar seu nome a todos os lugares, extrapolando minhas funções de mero assessor de imprensa.
Aliás, o Júlio inovou até mesmo nisso. Nos anos 90, foi um dos primeiros parlamentares a ter assessoria de comunicação. Como poucos, sabia a importância das palavras e, sobretudo, de divulgá-las corretamente para o eleitor.
Já em 2006, como tucano, Redecker somou 157 mil votos quando muitos faziam apostas de que jamais se reelegeria. O fato é que ele seria eleito até mesmo no PT, tamanha era a força da marca Júlio Redecker.
No ano seguinte, fui morar com ele em Brasília, atuando na Liderança da Minoria. O aprendizado era ainda maior, assim como as responsabilidades. E aí, em março de 2007, Júlio viajou para os Estados Unidos e acertou uma palestra do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, na Câmara Americana.
Me ligou animado e disse:
_ Mariozinho! Tu vai vir comigo. Washigton nesta época é incrível e vai ser muito legal esse contato pra ti aqui nos Estados Unidos.
Eu já havia ido duas vezes aos EUA, em uma delas para participar de um curso de duas semanas na esfera pública. Sim, foi o Júlio que me conseguiu a indicação junto ao Departamento de Estado norte-americano, que levou um grupo de assessores brasileiros para lá.
Mas aí, em virtude de ter um problema antigo no olho (pterígeo), aproveitei o recesso de julho para fazer a cirurgia na vista. Com isso, precisava ficar quase um mês me recuperando e não viajei com Redecker.
Então, no dia 17 de hulho, às 18h30, eu em casa, fui surpreendido junto com o Brasil da tragédia que se abateu sobre a aviação civil nacional. Não foi por acaso, e Redecker, em um discurso histórico e memorável que ajudei a fazer juntamente com o consultor Ijalmar, em Brasília, alertou que outra tragédia poderia ocorrer depois da queda do avião da Gol, tamanha era a bagunça na Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac.
Mesmo ainda sem estar recuperado, me ofereci para ir a São Paulo levar os documentos para identificação do corpo. De madrugada, junto com o colega Giovani Luzzato, fui ao escritório da dentista de Redecker buscar radiografias da arcada dentária.
Pela manhã, embarcamos em voo da TAM e, na chegada à capital paulista, um helicóptero da Fiesp nos esperava para nos levar diretamente até a sede da entidade, onde o presidente nos aguardava para nos conduzir até o hotel onde estava a família de Redecker.
Ao chegar no quarto do hotel, um senhor grisalho está sentado no chão, com dois telefones ao mesmo tempo, dando ordens. Era Arlindo Chinaglia. O deputado petista comandava as ações para a rápida identificação e liberação do corpo, ao mesmo tempo em que dava ordens para a assessoria da Presidência da Câmara, em Brasília.
Um dia depois, já com  40 horas sem dormir, retornamos para o Rio Grande do Sul, no avião do governo do Estado de São Paulo, onde Júlio Redecker receberia as últimas homenagens no Palácio Piratini, sede do governo.
           Seu velório foi triste e lindo. Adversários, eleitores, amigos, familiares, todos correram para o Piratini no último adeus ao melhor de todos.
          Em Novo Hamburgo, um corredor humano se formou ao longo da BR-116 e nas principais vias para saudá-lo, parando a cidade que o acolheu no final dos anos 80. De lá pra cá, minha vida tomou muitos rumos, mas não teve um único dia que deixei de lembrar sua memória, pois sempre alguém me pergunta algo sobre ele ou eu mesmo faço a referência devida.
           Neste dia de tantas lembranças, minha homenagem e meu carinho a ti, Júlio César Redecker, o alemão, o filho do seu Fritz e da dona Vera, um taxista e uma cozinheira de restaurante que lhe deram a diretriz para a vida.
            Teu legado e tua história seguem conosco. Hoje e sempre.